A Open Science (Ciência Aberta) vem transformando profundamente os modos de produzir, compartilhar e avaliar o conhecimento científico.
Em um contexto de democratização da informação, avanços tecnológicos e pressões por transparência, a ciência aberta surge como uma resposta ética, política e metodológica para tornar a ciência mais acessível, colaborativa e inclusiva.
Neste artigo, discutimos o conceito de Open Science, seus princípios, práticas e impactos na publicação científica, além de refletir sobre os desafios e perspectivas dessa revolução em curso no campo da pesquisa.
1. O que é Open Science?
Open Science é um movimento internacional que propõe a abertura de todas as etapas do processo científico: desde o acesso aos dados, métodos e publicações, até a participação da sociedade na produção do conhecimento.
A proposta vai além do acesso aberto a artigos. Trata-se de repensar o fazer científico com base em valores como colaboração, transparência, reprodutibilidade e equidade.
2. Princípios da Ciência Aberta
- Acesso aberto (open access): tornar artigos científicos disponíveis gratuitamente para todos
- Dados abertos (open data): compartilhar bases de dados para reuso e reprodutibilidade
- Código aberto (open source): disponibilizar scripts, algoritmos e softwares utilizados
- Revisão aberta (open peer review): tornar o processo de avaliação mais transparente
- Cadernos abertos (open notebooks): divulgar registros laboratoriais e anotações de campo
- Educação aberta (open education): promover acesso a conteúdos didáticos e científicos
- Engajamento cidadão (citizen science): envolver a sociedade em projetos de pesquisa
3. Acesso aberto: nova lógica da publicação científica
Historicamente, o acesso ao conhecimento acadêmico era restrito a universidades ou instituições com poder de compra de periódicos caros. O modelo de acesso aberto rompe com essa lógica.
Tipos de acesso aberto:
- Ouro: publicação direta open access, com ou sem custo para o autor
- Verde: autoarquivamento em repositórios institucionais ou temáticos
- Híbrido: mesclam conteúdos pagos e abertos
4. Benefícios da Open Science para a publicação científica
- Aumento da visibilidade e do impacto das pesquisas
- Aceleração da difusão do conhecimento
- Maior transparência e confiança nos resultados
- Facilitação da colaboração entre pesquisadores e instituições
- Inclusão de países e pesquisadores com menos recursos
5. Plataformas e repositórios de ciência aberta
- SciELO (Brasil e América Latina)
- Directory of Open Access Journals (DOAJ)
- PubMed Central
- ArXiv, BioRxiv, SocArXiv
- Zenodo, Figshare, Dryad
- Editora Inovar: catálogo com livros de acesso aberto e indexados aqui
6. A cultura dos preprints
Preprints são versões preliminares de artigos científicos, disponibilizadas em plataformas antes da revisão por pares. São comuns nas ciências exatas e biomédicas, mas vêm ganhando espaço em outras áreas.
Vantagens:
- Redução do tempo de divulgação
- Feedback prévio da comunidade
- Registro de autoria
7. Revisão por pares aberta: novos modelos de avaliação
A revisão aberta propõe:
- Divulgação dos nomes dos revisores
- Acesso público aos pareceres
- Diálogo direto entre autores e avaliadores
- Avaliação pós-publicação
Essas práticas visam tornar o processo mais transparente e construtivo.
8. Desafios da Ciência Aberta
- Custo de publicação
- Resistência de editoras comerciais
- Desigualdade de acesso à infraestrutura digital
- Necessidade de políticas institucionais claras
- Mudança cultural entre pesquisadores e avaliadores
9. Políticas públicas e iniciativas globais
- Plano S (Europa): exige que pesquisas financiadas com dinheiro público sejam publicadas em acesso aberto
- CAPES e CNPq (Brasil): apoio a periódicos e repositórios de acesso aberto
- UNESCO (2021): recomendação global sobre ciência aberta
Considerações finais
A Ciência Aberta (Open Science) não é apenas uma tendência futura — ela já é uma necessidade presente e inadiável para a construção de uma ciência mais justa, acessível e alinhada às demandas sociais do nosso tempo.
Em um mundo marcado por crises sanitárias, desigualdades históricas, desinformação em massa e restrições no acesso ao conhecimento, abrir os processos científicos tornou-se um gesto de compromisso ético, político e coletivo.
Adotar os princípios da Ciência Aberta significa reconhecer que o conhecimento não deve estar restrito a muros institucionais, barreiras linguísticas ou acesso pago.
É afirmar que a ciência, quando financiada por recursos públicos, deve retornar à sociedade em forma de saber compartilhado, soluções aplicáveis e avanços que atendam ao bem comum.
Mais do que uma abertura no sentido técnico, publicar em acesso aberto implica uma revolução de valores: trata-se de fortalecer a transparência nos métodos, a reprodutibilidade dos dados, a colaboração entre pares, o diálogo com saberes locais e a inclusão de múltiplas vozes na produção científica.
Publicar de forma aberta é democratizar o conhecimento, ampliar seu impacto e aproximar a ciência da vida real — das escolas, dos movimentos sociais, dos gestores públicos e da população em geral.
Ao promover práticas de dados abertos, revisão por pares, repositórios acessíveis e comunicação científica em linguagem clara, a Open Science fortalece não somente a confiança social na ciência, mas também a integridade e a legitimidade da produção acadêmica.
Neste contexto, pesquisadores, editores, instituições e agências de fomento são chamados a reconfigurar suas práticas, quebrar silêncios estruturais e fomentar uma cultura de partilha e corresponsabilidade.
Afinal, ciência que não circula, que não comunica e que não transforma, arrisca perder sua função social mais nobre.
A Ciência Aberta não é somente um caminho alternativo — é o caminho necessário para fazer da produção científica um bem comum, global e transformador.