O preprint (ou pré-impressão) representa uma versão preliminar de um artigo científico disponibilizada antes da revisão por pares e publicação oficial.
Essa prática emergiu como resposta à necessidade de divulgação rápida e transparente dos resultados.
O presente artigo oferece uma análise extensiva sobre o conceito de preprint, abordando sua origem, funcionamento, plataformas principais, benefícios, desafios e implicações na pesquisa acadêmica contemporânea.
Voltado a professores universitários, pesquisadores e estudantes de pós-graduação, o texto busca apresentar informações importantes quanto ao uso de preprints, contextualizando práticas, impactos e recomendações para garantir rigor científico, visibilidade e integridade na produção de conhecimento.
1. Definição e caracterização
Um preprint é um manuscrito científico compartilhado publicamente antes de passar por revisão formal por pares.
Geralmente disponibilizado em repositórios abertos, não estruturado em layout final, o preprint pode ser atualizado, revisado e até retirado, mantendo-se como parte permanente do registro científico.
Plataformas como arXiv, bioRxiv e Preprints.org recebem pré-publicações desde a década de 1990, predominando em áreas como física, matemática e ciências da vida.
2. Histórico e evolução
2.1 Origem
O termo surgiu com arXiv, criado em 1991 por Paul Ginsparg como arquivo eletrônico de “e-prints”, inicialmente focado em física e matemática.
Com pioneirismo na distribuição de manuscritos antes da revisão formal, essa iniciativa foi fundamental para o crescimento do movimento de acesso aberto e preprints.
2.2 Crescimento recente
Nas últimas três décadas, o uso de preprints cresceu exponencialmente: estima-se um aumento de 63 vezes no número de publicações por meio dessas plataformas, representando cerca de 4% dos artigos totais.
O bioRxiv, lançado em 2013, tornou-se referência na área biomédica, atraindo milhares de manuscritos e incentivando a discussão prévia entre pares.
Plataformas dedicadas nasceram entre 2016 e 2017, como Preprints.org, chemRxiv e EarthArXiv.
3. Plataformas de preprints
3.1 arXiv
Serviço de acesso aberto, sem revisão formal, reconhecido por sua categorização rigorosa. Aprovado por moderação, arXiv (lançado em 1991) já recebeu mais de 2 milhões de documentos.
3.2 bioRxiv e medRxiv
Repositórios específicos para ciências biológicas e da saúde. Criados em 2013 (bioRxiv) e 2019 (medRxiv), com suporte institucional da Cold Spring Harbor Laboratory.
Facilitaram a divulgação de resultados importantes durante a pandemia de COVID‑19.
3.3 Preprints.org e outros
Iniciativa da MDPI em 2016, com mais de 36.000 preprints indexados em repositórios acadêmicos (Web of Science, PubMed, etc.).
Além disso, plataformas emergentes incluem chemRxiv, EarthArXiv, PeerJ PrePrints e Preprints.org, ampliando o alcance disciplinar.
4. Benefícios dos preprints
4.1 Rapidez na divulgação
Publicação leva somente alguns dias, reduzindo o tempo tradicional de espera em revisão formal.
4.2 Reconhecimento precoce e prioridade
Ajuda a estabelecer priorização de descobertas científicas, evitando o risco de perda de originalidade.
4.3 Feedback amplo da comunidade
Leitores globais podem sugerir correções e contribuições, melhorando a qualidade antes da submissão ao periódico.
4.4 Acesso aberto e métricas alternativas
Disponibilização gratuita favorece avaliação por meio de visitas, downloads e redes sociais.
Estudos confirmam que preprints recebem mais citações que versões sem preprint — crescimento médio de ~5 vezes.
4.5 Transparência e reprodutibilidade
Disponibilização antecipada favorece replicação e redução de vieses de publicação.
5. Desafios e limitações
5.1 Ausência de revisão por pares
Riscos associados à divulgação de dados preliminares sem avaliação formal.
5.2 Reputação acadêmica ainda restrita
Alguns periódicos não aceitam manuscritos já divulgados como preprints — embora esta resistência esteja diminuindo.
5.3 Dificuldade de interpretação pública
Leitores não especializados podem confundir preprints com artigos validados, impactando comunicação científica e confiança pública.
5.4 Citabilidade e qualidade desigual
Preprints geram citação desigual, privilegiando trabalhos de autores com prestígio, reforçando desigualdades.
6. O papel dos preprints em crises científicas
Durante emergências — como a COVID‑19 — os preprints aceleraram a disseminação de descobertas essenciais, permitindo milhões de acessos e milhares de citações antes da publicação formal.
Essa proatividade mudou a dinâmica da ciência emergencial e mostrou o valor da divulgação precoce em eventos críticos.
7. Impactos medidos e estudos empíricos
Diversos estudos analisam os efeitos quantitativos dos preprints:
- Na matemática, artigos com preprint são visualizados e citados mais cedo e com maior intensidade.
- Preprints trazem vantagens métricas: até 14 meses de antecipação e 5 vezes mais citações.
- Preprints correlacionam-se com aumento médio de 20% em citações em PLOS.
8. Boas práticas recomendadas
- Indicar claramente versão “preprint” com data e DOI.
- Inserir disclaimer: “Este trabalho ainda não passou por revisão por pares”.
- Monitorar feedback público e incorporar revisões antes da submissão formal.
- Verificar a aceitação prévia da editora para preprints.
- Atualizar versões revisadas ou retirar preprints se necessário.
- Oferecer transparência, divulgando dados, códigos e documentação associada.
9. Preprints e reprodutibilidade
Preprints promovem cultura de pesquisa aberta, abrindo espaço para replicação imediata. Eles ajudam a mitigar viés de publicação positiva e reforçam os valores da ciência rigorosa desde o início.
10. Cenário futuro e recomendações institucionais
- Integração formal do uso de preprints em políticas universitárias e agências de financiamento.
- Incentivo à ciência cidadã — além de ciência aberta.
- Desenvolvimento de métricas substitutas ao fator de impacto.
- Educação acadêmica sobre melhores práticas com preprints e comunicação pública.
Conclusão
O preprint representa uma inovação central na transformação do fluxo acadêmico, oferecendo rapidez, visibilidade e transparência — sem comprometer a integridade científica, desde que acompanhado de práticas responsáveis.
Embora exija cautela — especialmente em áreas com impacto social direto —, é uma ferramenta que democratiza o conhecimento, fortalece a ciência aberta e aprimora a reprodutibilidade.
Para docentes e pesquisadores, os preprints não somente significam publicar; significam compartilhar conhecimento com ética, diálogo e propósito social.
Ao integrar preprints a seus processos, a comunidade acadêmica fortalece a ciência do século XXI: aberta, colaborativa e direcionada ao bem comum.