A revisão sistemática é uma metodologia essencial para pesquisadores que desejam reunir, analisar e sintetizar o conhecimento científico disponível sobre um determinado tema.
Diferente de revisões tradicionais, ela segue critérios rigorosos, padronizados e replicáveis, proporcionando uma base sólida para decisões teóricas, práticas e políticas.
A condução de uma revisão sistemática exige etapas bem definidas, como a formulação de uma pergunta de pesquisa clara, o estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão, a seleção minuciosa das bases de dados, a extração padronizada das informações e a avaliação crítica dos estudos incluídos.
Neste artigo, explicamos passo a passo como conduzir uma revisão sistemática na área acadêmica, desde a formulação da pergunta até a análise dos resultados.
1. O que é uma revisão sistemática?
A revisão sistemática é um método científico rigoroso utilizado para reunir, avaliar e sintetizar, de forma estruturada e transparente, os estudos existentes sobre uma pergunta de pesquisa bem delimitada.
Diferentemente das revisões tradicionais, esse tipo de investigação segue protocolos pré-estabelecidos que garantem a reprodutibilidade, a objetividade e a minimização de vieses durante todo o processo.
Ela pode ou não incluir uma meta-análise, que consiste na integração estatística dos resultados quantitativos dos estudos analisados, oferecendo estimativas mais consistentes e metodologicamente fundamentadas acerca de determinado objeto de estudo.
Principais objetivos da revisão sistemática:
Subsidiar decisões baseadas em evidências: fornecer suporte confiável e atualizado para a tomada de decisões científicas, clínicas, educacionais ou políticas, com base em resultados consistentes e metodologicamente sólidos..
Mapear o estado da arte: identificar, de forma abrangente, o que já foi produzido sobre um tema, permitindo uma visão atualizada e crítica do campo de estudo.
Apontar lacunas do conhecimento: destacar aspectos ainda pouco explorados ou controversos, orientando futuras pesquisas.
2. Quando realizar uma revisão sistemática?
- Início de um projeto de pesquisa
- Elaboração de fundamentação teórica
- Preparação de dissertações, teses ou artigos
- Construção de protocolos e diretrizes baseadas em evidências
3. Etapas para realizar uma revisão sistemática
a) Formulação da pergunta de pesquisa
Utilize modelos como o PICO (População, Intervenção, Comparação, Resultado) ou SPIDER (Sample, Phenomenon of Interest, Design, Evaluation, Research type) para estruturar a pergunta.
Exemplo: Qual o efeito do mindfulness na ansiedade de estudantes universitários?
b) Elaboração do protocolo da revisão
- Justificativa e objetivos
- Critérios de inclusão e exclusão
- Bases de dados e descritores
- Estratégia de busca
- Métodos de seleção, extração e análise
Registre seu protocolo em plataformas como o PROSPERO ou OSF.io para maior transparência.
c) Estratégia de busca bibliográfica
Monte uma combinação de descritores e operadores booleanos (AND, OR, NOT). Realize a busca em múltiplas bases:
- PubMed
- Scopus
- Web of Science
- SciELO
- ERIC
- Google Scholar
d) Seleção dos estudos
- Remova duplicatas
- Leia títulos e resumos conforme os critérios
- Acesse o texto completo para verificação final
Duas pessoas devem revisar independentemente, com resolução de conflitos por consenso ou terceiro revisor.
e) Extração e organização dos dados
Crie uma planilha para registrar informações-chave:
- Autor e ano
- País
- Tipo de estudo
- Amostra
- Resultados principais
- Limitações
f) Avaliação da qualidade metodológica
Use instrumentos como:
- Joanna Briggs Institute (JBI)
- Cochrane Risk of Bias Tool
- PRISMA checklist
A avaliação garante a confiabilidade dos achados incluídos.
g) Síntese dos resultados
- Análise qualitativa (categorias, padrões, tendências)
- Meta-análise (se aplicável e se houver dados compatíveis)
Apresente os dados em forma de tabelas, gráficos, fluxogramas (PRISMA Flow Diagram).
h) Redação do relatório final
Inclua:
- Introdução com a justificativa
- Métodos detalhados e reprodutíveis
- Resultados com dados organizados
- Discussão crítica e implicações
- Limitações e recomendações futuras
4. Dicas práticas para uma boa revisão sistemática
- Trabalhe em equipe para maior rigor
- Use softwares de apoio (Rayyan, Mendeley, Zotero, Excel)
- Documente cada etapa com clareza
- Seja criterioso na definição dos critérios de inclusão
- Atualize a revisão se o processo demorar muito tempo
5. Diferença entre revisão sistemática, integrativa e narrativa
Tipo | Rigor metodológico | Síntese de dados | Objetivo principal |
---|---|---|---|
Sistemática | Alto | Qualitativa e/ou quantitativa | Identificar evidências |
Integrativa | Moderado | Qualitativa | Reunir dados de diferentes fontes |
Narrativa | Baixo | Descritiva | Explorar e contextualizar o tema |
Considerações finais
A elaboração de uma revisão sistemática representa um dos exercícios mais exigentes — e ao mesmo tempo mais relevantes — da prática acadêmica contemporânea.
Trata-se de um processo que demanda não somente rigor metodológico, mas também clareza epistemológica, habilidade analítica e compromisso ético com a produção e a disseminação do conhecimento científico.
Mais do que uma simples compilação de estudos, a revisão sistemática opera como um instrumento de síntese crítica, capaz de revelar padrões, lacunas, controvérsias e consensos em um campo específico.
Ao seguir protocolos explícitos e reprodutíveis, ela garante transparência e confiabilidade, oferecendo uma base sólida para futuras investigações, práticas profissionais e formulações de políticas públicas baseadas em evidências.
Conduzir uma revisão sistemática é, portanto, participar ativamente da construção coletiva do saber, estabelecendo conexões fundamentadas entre o que já foi produzido e os caminhos ainda a serem trilhados.
É uma contribuição valiosa não somente para a literatura científica, mas para a qualificação do próprio fazer acadêmico.