Escrever um bom projeto científico para CNPq, FAPESP ou CAPES exige mais do que um estudo bem fundamentado: requer planejamento estratégico, aderência a regras formais e clareza comunicacional.
O objetivo deste artigo é mostrar como escrever projetos para fomento: do entendimento dos critérios de seleção até a redação técnica e gestão de recursos.
Ao longo deste artigo, você encontrará:
- A estrutura específica exigida por agências de fomento;
- Técnicas de redação e apresentação;
- Dicas para destacar impacto científico e social;
- Cuidados na elaboração de cronograma, orçamento e indicadores;
- Como evitar erros comuns e maximizar chances de aprovação.
Este conteúdo visa formar docentes e pesquisadores que dominem tanto o conteúdo científico quanto a forma ideal de apresentação para financiamento público.
1. Entendendo as agências de fomento
1.1 CNPq, FAPESP e CAPES: esferas de apoio
- CNPq (Ministério da Ciência): foca em bolsas (PIBIC, mestrado, doutorado, pós-doc e produtividade), e recursos para infraestrutura.
- FAPESP (São Paulo): apoia projetos de pesquisa regulares, temáticos e bolsas, seguindo roteiro específico: folha de rosto, enunciado do problema, resultados, desafios científicos, cronograma, equipe, disseminação, recursos extras, bibliografia e orçamento.
- CAPES (MEC): privilegia pós-graduação stricto sensu, programas como PNPD, PROAP, e capacita programas internacionais.
1.2 Conheça o edital
Leia com atenção:
- Objetivo, linhas temáticas;
- Critérios de elegibilidade e avaliação;
- Constituições de equipes, locais de realização, prazos;
- Formatos (formulários eletrônicos como SAGe, Agilis, sistema Lattes).
2. Planejamento estratégico do projeto
Antes de redigir, elabore um plano prévio:
- Defina pergunta de pesquisa: clara, relevante e específica.
- Revise estado da arte: identifique lacunas.
- Consulte parceiros e orientadores: alinhe escopo.
- Defina outputs esperados: publicações, aplicativos, impactos sociais.
- Faça cronograma realista: com marcos mensuráveis.
- Orçamento modular: defina custos diretos (materiais) e indiretos (viagens, publicação).
Esse preparo facilita a escrita fluida e evita retrabalho no sistema.
3. Estrutura recomendada
Baseado no roteiro da FAPESP e adaptável para CNPq e CAPES:
3.1 Folhas de rosto
- Versão em português e inglês;
- Contém título, responsável, instituição e resumo (até 20 linhas).
3.2 Enunciado do problema
- Apresente contexto nacional/internacional;
- Explique relevância técnica, social ou econômica;
- Defina claramente o problema de pesquisa.
3.3 Resultados esperados
- Descreva produtos tangíveis: artigos, patentes, protótipos, políticas públicas;
- Seja objetivo.
3.4 Desafios científicos e métodos para superá-los
- Liste os principais obstáculos técnicos;
- Descreva estratégias/ abordagens metodológicas;
- Sensibilidade ética e possíveis riscos.
3.5 Cronograma de execução
- Divida o projeto em fases (ex.: levantamento, coleta, análise);
- Estabeleça marcos temporais;
- Visualize com Gantt chart.
3.6 Equipe e atividades
- Apresente pesquisadores responsáveis e bolsistas;
- Detalhe tarefas por fase.
3.7 Disseminação e avaliação
- Explique como resultados serão avaliados (indicadores métricos);
- Planeje canais: congressos, jornais, políticas públicas.
3.8 Outros apoios
- Descreva fontes de suporte (viagens, instalações);
- Anexe cartas de comprometimento institucional.
3.9 Bibliografia
- Cite referências atuais (últimos 5 anos), alinhadas à lacuna;
- Utilize estilo ABNT, APA ou Redux.
3.10 Orçamento (formulário SAGe/Agilis)
- Detalhe recursos em real e dólar se aplicável;
- Justifique cada rubrica.
4. Técnicas de redação
4.1 Títulos e subtítulos claros
- Use termos como “objetivos”, “metodologia”, “impacto”, favorecendo busca textual interna e leitura por pareceristas.
4.2 Parágrafos objetivos
- Máximo de duas frases por parágrafo;
- Evite jargão sem explicação;
- Priorize frases ativas (sujeito + verbo).
4.3 Destaque em negrito
- Reforce termos centrais como sustentabilidade, inovação, impacto social.
4.4 Palavras-chave pertinentes
- Inclua repetição sutil de termos de edital (ex.: “ciências humanas”, “mudanças climáticas”);
- Facilita o alinhamento textual com os critérios de seleção.
5. Preenchendo formulários eletrônicos
5.1 Plataforma Lattes
- Atualize seu currículo com dados completos (projetos anteriores, orientações, produção acadêmica).
5.2 Sistemas SAGe, Agilis, SICONV
- Use versões recomendadas;
- Preencha com uso de cópias regulares;
- Atenção às anexações (PDF, carta institucional, plano de dados, se exigido).
6. Orçamento detalhado
6.1 Materiais de consumo
- Justifique cada item (ex.: reagentes, insumos, testes).
6.2 Equipamentos/suporte técnico
- Indique critérios técnicos;
- Pode aparecer como infraestrutura da instituição.
6.3 Diárias e passagens
- Base em tabela oficial (CNPq ou Capes).
6.4 Publicação e divulgação
- Custos com periódicos abertos, eventos, tradução.
7. Monitoramento e riscos
Inclua a seção de riscos:
- Técnicos (falhas experimentais, atrasos);
- Éticos (comitê de ética, consentimento);
- Institucionais (contratos, importação de materiais).
Apresente mitigação (ex.: protocolo alternativo, equipes extras).
8. Envio, revisão e acompanhamento
- Revise o texto final (ortografia, formatação); peça leitura crítica;
- Envie antes do prazo com comprovantes;
- Acompanhe via sistema da agência;
- Prepare eventual resposta a exigências.
9. Avaliação e pós-aprovação
Após aprovação:
- Assine termo de compromisso;
- Elabore plano de comunicação (atuar na mídia institucional, websites);
- Registre equipe diretamente no Lattes e na plataforma;
- Faça relatórios semestrais;
- Cumprimento de metas, publicação, prestação de contas.
10. Erros comuns a evitar
- Falta de consistência entre cronograma e orçamento;
- Ausência de metodologia clara;
- Currículo desatualizado no Lattes;
- Orçamento genérico, sem justificativa;
- Falhas no cumprimento de formato e páginas.
Conclusão
Escrever projetos para CNPq, FAPESP e CAPES é um exercício de equilíbrio entre conteúdo técnico e estratégia de apresentação. Assegure-se de:
- Entender completamente o edital e seus critérios;
- Planejar cada fase com cronograma e orçamento compatíveis;
- Redigir com clareza, objetividade e alinhamento institucional;
- Atualizar o currículo (Lattes), anexo institucional e relatórios;
Aplicando as diretrizes acima, seu projeto estará tecnicamente sólido, visualmente adequado e estrategicamente preparado para convencer pareceristas.
Resultado: potencial de aprovação elevado e início de caminho para impactos científicos e sociais reais.